Estás a olhar

Estás a olhar

os versos que incendeiam o momento

salpicam a mente e emergem

em silábicos minutos de êxtase

vezes poucas,os sentidos plenos

entrelaçando-se de simples palavras

sem rimas e limas, nascem e crescem,

suspiro grandioso dos dedos:

suados,suaves e renascidos,

seguem.

Estás a olhar

versos que não ousavam mais

eram vazios, calados, cansados

entristecida-mente submersos

em destoadas sílabas de horas a fio,

vezes tantas, sem sentidos tortos,

linha reta, sem paralelas complexas

rimando apenas o silêncio mórbido,

lacrimejando entre os dedos:

rasgados, desbotados e mortos.

Estás a olhar

enfim,

um poema arrancado

das entranhas do abismo,

do poeta moribundo:

luta, enchente, desafio;

que os olhos abraçaram

tirando do lodo, todo

o instante de respiro.