Vidas

Eu passei muito tempo

Mergulhado em incertezas

Buscando a receita, a fórmula,

Acerca de como, de fato,

Viver.

Eu passei muito tempo

Absorto em questionamentos

Estudando meticulosamente

O mundo ao meu redor

Atravessando os mares em euforia

E eu era então um jovem

Habitado por inseguranças.

Na minha obstinada busca

Eu vivi sem viver, amei sem amar,

E me deparei com o vazio.

O vazio que para todos chega;

Eu olhei dentro da sua boca escura

E em meu reflexo havia uma sombra,

No meu rosto, uma cicatriz antiga

Da qual eu próprio nunca soube

Eu escorreguei no limo das rochas

Tentando nadar através

Das águas de mim mesmo

E lutando com minha natureza

Fui levado pela correnteza do tempo

E eu era então um velho

Repleto de sabedorias

E entendimentos tardios

Com meus pés já cansados

Da grande estrada que percorri.

Eu fechei os olhos e pude ver

Pela segunda vez o vazio

Desta vez claro e calmo,

Em sua luz morna e branca

Que me carregou suavemente…

E eu era então uma criança

Nos braços de uma mãe

Que não era a minha

Subitamente a vida, que era uma outra

E sem saber para onde ir.

Pois quando eu supus

Que algo compreendia

Fui varrido como a areia

De uma ampulheta partida

Que contém somente o passado.

E sobrou-me senão um apanhado

De dizeres anacrônicos

E uma legião de vozes

(pois escrevendo já tive tantas)

Que narram mais um recomeço.

Mais um capítulo em branco,

O primeiro suspiro de um poema

Uma mansidão oceânica

Que sequer supõe

A tormenta que está por vir.

Eu cruzei impérios e milênios

Descobrindo a minha verdade

E quando enfim me aconcheguei

Na minha própria pele

E em tudo o que nela se encerra

Eu era então o tempo

Atravessante e atravessado

Pelas margens do pensamento;

Eu era senão um punhado

De versos lançados ao vento.

pedro toscan
Enviado por pedro toscan em 23/08/2021
Reeditado em 26/08/2021
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