Todas as luas

Todas as luas

maria da graça almeida

O trovador diz da lua

quase tudo, quase nada.

Pelos céus elas navegam

distantes, alienadas.

No anonimato ou com nome,

do poeta, belo informe.

No poema, abstratas,

convivem em harmonia,

clareando da noite a errata,

cobrindo a pressa dos dias.

O poeta solitário

no convite ao amor:

- Vamos juntar nossas luas,

que caminham tão sozinhas?

O artista solidário,

seduzido pela cor:

-Sua tela de lua está nua,

quer um pedaço da minha?

Dizendo da lua

maria da graça almeida

Conheci sua lua. Encantei-me!

Sem amarras, solta, flutua.

-Rima corriqueira?

Inevitável?

Mas, verdadeira-

Por acaso, quando a fita,

vê um fio que a segura,

tal qual fosse leve pipa?

Fez-me inveja, sua lua.

Apanhei, apalpei, aspirei-a.

Devolvi. Ela é sua!

Pronto! Não se zangue!

Só a tomei por empréstimo,

um bocadinho.

Da gaveta, tirei a minha:

amarrotada, quadrada,

coitada!

Acorrentada pelas rimas,

vigiada pelas sílabas!

Cilada!

Examinei-a: não lhe pus fé!

Poetizar, contando

nos dedos das mãos,

nem sempre "dá pé!”.

Lua

maria da graça almeida

A lua tão alva,

tranqüila, serena,

no fundo do poço,

parece morena.

A lua ingênua,

temente e pura,

no fundo do poço,

descansa segura.

Da bela figura

tampouco se orgulha,

se perto a espio,

mais fundo mergulha.

maria da graça almeida
Enviado por maria da graça almeida em 22/03/2005
Reeditado em 26/05/2012
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