SOBRETUDO
Sobretudo, vida!
Nas horas de dor, noites de tristeza,
Nos momentos em que nada
Significa realmente nada,
No tempo perdido em sonhar errado.
Pensar num abraço
Quando o cansaço lhe vence,
Quantas vezes o corpo suplicar,
Lavar a alma quando o sal queimar a pele.
Nos lugares de antes
Em que foste traído,
Subtraído de ti mesmo
E deixado às sombras do destino.
E desde jovem tinhas esperança,
Involuntariamente suavas toda obra lapidada
No movimento de tuas retinas.
Pouco te bastaria,
Teu coração era puro
Como água cristalina.
Mas tuas mãos não alcançavam
O prato que te serviam,
O pão sagrado da poesia.