A MISÉRIA DO SER

Ser se tornou consumo.

O ego nos assujeita

na sedução absoluta

do objeto que nos devora a alma.

Ser é o que se come

ou o que define sua fome,

concreta e abstrata,

sua necessidade

ou precariedade,

seu modo de vida

e de morte.

Ser é desver-se no mundo,

desinventar subjetividades,

devir outros mundos,

multiplicar-se nos rostos,

fragmentar-se,

perder-se,

saber-se um fora

dentro da cidade abismo.

Ousar imaginar imanentes metafísicas

de um corpo que afeta

afetado por um devir inumano.

Ser é saber-se mato, água,

terra e ar,

trair a realidade

antes que ela nos traia

calando a loucura,

transmutando a matéria,

como um insano alquimista.

Ser é viver como coisa,

É consumir,

consumir-se,

misturar-se,

Desaparecer,

gritar,

onde nada existe

além do simulacro

no fluxo das formas,

dos signos e dos limites do sentido e do não sentido.

Ser é o não valor de tudo que existe,

é dizer o que não pode ser dito

na inconsciência de nossos atos

e na inutililidade de nossas certezas, emoções e conquistas.

Ser é contemplar o próprio cadáver

no anonimato de um crânio

exposto em qualquer vitrine.