Metá-fora!
Diz-me: gostarias de ser como eu sou?
Não queiras.
A mais perfeita cópia, ainda é cópia.
E por que logo eu?
Tenho defeitos. Muitos.
Enquanto a tua bandeira tremula
por pensamentos alheios,
a minha, estática, acompanha teus movimentos,
completamente estarrecida.
Gostas de brioches? Então, coma-os.
Sou do biscoito água e sal, e do cafezinho com adoçante.
Eles dosam a gordura dos meus olhos.
Minhas pretensões não chegam a espaços alheios.
Mas te garanto que, do meu espaço, cuido eu.
E é tão fácil zelar pelo próprio espaço!...
Abro as janelas para que o ar se renove.
Cerro as cortinas para que não invadam a minha privacidade.
Tão fácil, não concordas?
Não fico à janela buscando os fatos.
Produzo meus próprios atos.
Nem sempre belos, nem sempre singelos,
mas, nem por um momento, falsos.
Sou leal aos meus credos.
Na minha cartilha, as palavras são livres.
E, no meu dicionário, os sinônimos e os antônimos são respeitados.
Tudo muito simples. Muito claro. Muito objetivo.
Por que logo comigo?
Não te ultrajo. Não te persigo. Não te oprimo.
Vamos falar do amor? Pode ser?
Como tu amas?
Será que tu vês teu próprio umbigo?
Ou só te enxergas em umbigos alheios?
Tenho um amor que é universal.
Amo tudo que se movimenta. Seja animal, seja vegetal.
Mas eu tenho um amor incondicional por gente.
Eu disse: gente! Ser humano com qualidades e defeitos.
Mas sabias que, em momento algum, tento ser qualquer um?
Já é tão difícil ser eu mesma.
Não queiras, portanto, ser minha cópia.
Sou distraída, sou chorona e tenho coração mole.
Não é legal ser assim.
Porque quando eu me descubro em outra pessoa semelhante
odeio a fragilidade que enxergo.
O mundo é dos fortes.
Custei a encontrar um cantinho onde eu pudesse
respirar um ar menos contaminado,
e, de repente, sinto que tu o invadiste.
Poderia te dizer:
- "Há algumas flores ainda não descobertas
onde tu serias a primeira pessoa a exalar o perfume"
Dir-te-ia em metáforas, ou assim,
claramente:
"Metá-fora, criatura!"
Há outros perfumes para tu te embriagares...
"Metá-fora!"