INQUIETUDE
O que me perturba, e o que deveras espero?
Ando exausta na aldeia e triste na cidade;
os prazeres inerentes da minha idade
já não podem me poupar do tempo severo.
Uma vez a amizade e as magias do estudo,
preenchiam meu brando lazer sem asseios.
Oh! Qual o objetivo de meus vagos anseios?
Ignoro-os, e busco-os com agonia em tudo.
Se para mim, ser feliz não era alegria,
não a encontro mais em minha melancolia;
mas, se temo o pranto tal qual a insanidade,
onde consigo encontrar a felicidade?
E tu, que me deixavas feliz e vibrante,
decidiste fugir de mim sem retornar?
Responda, minha razão; falaz e hesitante,
ao poder do Amor, tu irás me abandonar?
Amor! Era esse o nome que tremi ao ouvir.
Mas o medo que ele induz é tão mavioso!
Razão, já não tens segredos pra me instruir,
e este nome, o oposto de ti, foi minucioso!
© tradução/adaptação: Ismael Marck, 2021.
«Lʼinquiétude» poema escrito por Marceline Desbordes-Valmore — da obra «Élégies, Marie, et romances», 1819.
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Marceline Desbordes-Valmore (Douai, 20 de junho de 1786 — Paris, 23 de julho de 1859) foi uma atriz, cantora e poetisa da França da escola literária do Romantismo. Considerada como uma das melhores poetas do romantismo francês e única mulher dos chamados poetas malditos. Marceline escreveu sobre a beleza de sua cidade de nascimento, sobre relações amorosas, dificuldades e alegrias das vidas de mulheres e crianças.
Esta poetisa, ao mesmo tempo conhecida e desconhecida, oferece uma diversidade excepcional de temas e ritmos. Arrependimentos pela infância, amor, amizade, sentimento materno, morte e muito mais são expressos com a mesma facilidade em versos alexandrinos ou octossílabos,
Tudo é jogo musical em sua arte marcada pelo estudo e prática do canto. A isso se acrescenta o dom de retribuir a impetuosidade da paixão, prerrogativa também dos grandes românticos, seus irmãos mais novos. Há boas razões para acreditar que Vigny, Hugo e Musset ficaram impressionados com seu lirismo torrencial. Ao escrever sem se preocupar com reminiscências intelectuais ou preconceitos literários, ela não faz outra coisa senão a maioria das poetisas de seu tempo. Mas o que o diferencia deles é a arte de fixar, por meio dos termos mais contundentes, as emoções dispersas e confusas, como se estivessem em seu primeiro estado, todas ainda vibrando com o transe que esguicharam. Uma intuição brilhante permite-lhe encontrar imediatamente as expressões poderosas que se adaptam exatamente ao choque sentido.
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Lʼinquiétude — Marceline Desbordes-Valmore
Qu'est-ce donc qui me trouble, et qu'est-ce que j'attends ?
Je suis triste à la ville, et m'ennuie au village ;
Les plaisirs de mon âge
Ne peuvent me sauver de la longueur du temps.
Autrefois l'amitié, les charmes de l'étude,
Remplissaient sans effort mes paisibles loisirs.
Oh ! quel est donc l'objet de mes vagues désirs ?
Je l'ignore, et le cherche avec inquiétude.
Si pour moi le bonheur n'était pas la gaîté,
Je ne le trouve plus dans ma mélancolie ;
Mais, si je crains les pleurs autant que la folie,
Où trouver la félicité ?
Et vous qui me rendiez heureuse,
Avez-vous résolu de me fuir sans retour ?
Répondez, ma raison ; incertaine et trompeuse,
M'abandonnerez-vous au pouvoir de l'Amour ? ...
Hélas ! voilà le nom que je tremblais d'entendre.
Mais l'effroi qu'il inspire est un effroi si doux !
Raison, vous n'avez plus de secret à m'apprendre,
Et ce nom, je le sens, m'en a dit plus que vous !