Rocim Amarelo

1.Lamentação

Se não me assento no conselho dos príncipes.

Como saberei do que eles não conversam?

Sabemos em parte do que falam,

Mas do que não falam?

Falta me presunção, para o saber.

Uma curta reverência presto aos ferreiros

Que eram como os mestres de nossas espadas

Mas que pelo infortúnio acaso desapareceram

E ficamos como o cego sem seus cães guias.

Falta me a espada e até o fio.

Tiraria o meu chapéu, se o tivesse

A um marinheiro que eu encontrasse

Que conduzindo o leme em meio o mar revolto,

Sem querer profetiza sobre o nosso tempestuoso tempo.

Falta-me um chapéu para tirar.

Há aqueles que sentem falta das máquinas de escrever

Eu sinto falta dos escribas

Do crispar de suas penas afiadas

Da graça dos floreios e da beleza, que esquecida fora pelas letras de metal.

Falta me tinta, falta-me a pena.

Aos relógios que conversam com os astros de ferro.

Tão ajustados que não sabemos se estão atrasados ou adiantados.

Ajustaria o meu ao da dama, para que ao menos os nossos se conversem.

Para que ela me esperasse ansiosa as seis da tarde.

Falta-me o relógio e até o bolso pra guardá-lo.

Se minha boa fortuna me reservasse um cavalo.

Aceitaria até o amarelo rocim, que junto com dois presentes D’Artagnan ganhou de seu pai.

Que pediu que nunca dele desfizesse, mas que por três escudos,

Já o tinha vendido ainda no começo de sua jornada.

Falta me cavalo, falta-me os arreios.

2.Espera

Nessa lamuriosa inquietação em que espero,

Dou graças pela madeira que ainda resta para a fogueira

E o alaúde que resta para a canção.

Não para trovas de mal dizer,

Mas para uma cantiga de amor ao rei.

Canto aos meus companheiros:

Que rodeemos essa brasa singela

Que nos rodeia com um sereno conforto

Que entre os acordes da canção, nos consola do frio e da noite.

Da tempestade do nosso tempo.

3.Esperança

Senti um vento gelado na garganta.

Levei a mão a bainha e não encontrei a espada

O vento (que não me trouxe nenhum chapéu) me fez virar a cabeça.

Um bilhete vazio no meu alforje. Quem dera nele houvesse uma fina cursiva inglesa.

Sem saber as horas olhei ao longe e já era quase hora.

De longe vi um cavalo. Lembrei do que disse o jovem mosqueteiro ao estalajadeiro:

“Aquele que zomba do cavalo não ousaria zombar do dono”.

Mas não era o amarelo Rocim nem Rocinante que vinha ao longe.

Branco e imponente.

Nem do cavalo, nem do dono se podia zombar.