SEMPRE FOI ASSIM...
Sempre foi assim.
Como assim?
Sim, sempre foi assim.
O que não era assim era o olhar, mais desprecavido.
O peito ao alcance dos sonhos.
A ingenuidade das boas intenções.
O que não era assim
Era o coração pulsante,
Pulsátil ao que parecia ser novo,
Tangível às mãos firmes e sedentas
de agarrar o impossível.
O acreditar no que era invisivelmente improvável
a fazer o tudo só parecer não ser...
dentre o que sempre foi assim.
Sempre foi assim.
Sim, sempre.
O que não era assim
era a alma recém nascida
na frescura do começar sem saber
que sempre seria assim.
O que não era assim
era o brilho da criança extasiada
a fazer bem--me-quer
nas alvas margaridas dos jardins.
E acreditar que as flores tinham o poder de brotar desejos!
Era o toque do realejo da pracinha
a encantar um mundo ladrilhado de quereres
e ali tirar a sorte grande!
Das tantas possibilidades impossíveis...que sempre foram assim.
O que não era assim,
Era o tempo parado sob o controle dos sóis
sempre nascentes
naqueles horizontes distantes e coloridos
onde as mãos jamais alcançariam
as tantas telas em hologramas neles projetadas.
Digo...que sempre foi assim.
Como assim?
Sim, essa poesia que sempre foi assim.
Percebe?
Leia o mesmo todo nas entrelinhas do passado.
Homens de preto a configurar
o que só parecia que jamais seria assim.
A palavra solta ao vento
aos que ainda alimentavam futura existência...
Era o amor, usado sem ética, a só parecer
o antídoto aos infernos invisíveis.
O que não era assim
era a hora ainda não chegada
A essa invernada.
Era sim, o sorriso largo...mesmo ao nada.
O que não era assim
Era o congelar dos sentimentos
no desembaçar das lentes
Na marra e nas amarras do tempo!
No despertar no tudo que sempre foi assim.
Era esse mesmo poema, até então só rascunhado
guardado,
de verso recuperado, forçado, assustado
A se constatar relido, não vivido,
perdido no próprio olhar vago...
Dentre a perplexidade da poesia que sempre seria assim.