II

Derreto-me na angústia de criar versos

Sempre tão sólidos

Densos, pesados, profanos

Porque, versos negros, sórdidos tombos

do ser reticente que cospe uma migalha

do barulho vasto,

fundo,

criam-se sempre sob o véu da

derrelição que me não larga as correntes

de concreto,

volúpia?

És onda, mente, mar de robustez falsa

És a dança da fuligem que circula

em eterna repetição

Esse mastro retórico, besta,

Mastro ocre, abutre cáqui,

Preto, magro mastro inerte.

Derreto-me em verborragia morta

A quem clamo? Que se não anuncia

a verbo ou máquina

Outro dispêndio.

Não se sabes só!

Estúpida. Verborrágica.

Falas o que não sente.

Ao centro enfia o umbigo e a lápide plumbea: que estupendo divã à carne fria!

Há mais nela que há na língua

amarga língua proclama o deus metálico.

Sempre tão sólidos, versos duros,

Denunciam que és tão cheia de

vacuidade rumurosa

Quanto és Nada:

Tumulto de valências pretas

Nada vale!

Que vale?

Lá, como aqui:

O incerto é coroado rei.

Nicolle Ramponi
Enviado por Nicolle Ramponi em 10/08/2021
Código do texto: T7317967
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