O ESPELHO

Chegou.
Arriou a bolsa em qualquer lugar.
Naquele dia, alguém,
Que atirava pedras em forma de palavras.
No auge do seu  ódio e desvario 
Disse-lhe: Você é velha!
Como a lancar-lhe grave ofensa. 
Ela correu,
Sentou-se à frente do espelho.
Seus olhos castanhos, cor de azeitona
Quedaram-se a fitar
A imagem nele refletida.
Num misto de pânico e surpresa
Constatou que pequenas e grandes rugas,
Singravam-lhe a pele ressequida da face,
pelos anos carcomida ,
Marcas intensas, de dores profundas
E do longo caminhar de sua jornada.
Lágrimas rolaram e escorregaram traiçoeiras, furtivas,
por entre os sulcos esculpidos pela dor e pela fadiga.
Alisou carinhosamente 
a face gasta e enrugada 
pelo tempo
E pelas lutas da estrada. 
Diante do espelho,
extasiou-se com a sua imagem,
(realidade ou miragem ?)
Nunca se percebera tão bela!
Um riso lhe enfeitou o rosto
E a alma,
Balsamo que cura e acalma.
Uma alegria infinda coroou-lhe as facies.
Tanto pra contar...
Por mais que tenha contado
Por mais que contasse,
Constatou que
fora contemplada sim
pelo auspicioso dom da vida.
Nunca se vira assim...
Como arco íris que enfeita a
paisagem em alegre aquarela,
luzes vibrantes penetraram o ambiente.
Diante do espelho,
Um riso enfeitou-lhe o rosto,
Trazendo-lhe alegria infinda
Em forma de aquarela.
Extasiou-se com a sua imagem,
Alegremente no espelho refletida.
Em cores de aquarela, permitiu-se ser bela.
Linda ainda....
Diante do espelho,
Um riso lhe enfeitou o rosto
Emoldurado por longos fios
De cabelos brancos,
platinados,
(Sinal do tempo e dos anos vividos),
A trazer-lhe alegria infinda
Só pra ela,
Em forma de risos, cores e luzes,
Exuberante aquarela!







 

Fátima Trinchão
Enviado por Fátima Trinchão em 09/08/2021
Reeditado em 04/01/2024
Código do texto: T7316998
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