Porta Entreaberta
Essa porta entreaberta, esse passado mal escrito, todo manchado com tinta de caneta estourada, essa história finalizada com reticências e aspas duplas, portas cerradas, passados encerrados, histórias enterradas... Sento-me à beira da parede da varanda e observo as nuvens, alguns passarinhos e observo o nada. Vejo e não enxergo o que deveria estar bem ali na minha frente. Crianças já brincaram ali... foram embora. Fiz amor bem ali, namorei e depois chorei. Quando eu era pequeno, fiz papagaios e cerol, consertei o carrinho de rolimã bem naquele pedaço de terra. Plantei e reguei as plantinhas da minha mãe... as portas ficaram semiabertas, o portão era de madeiras pregadas precariamente. Meus amigos foram embora, uns para outra cidade, outros para outros países e alguns, ah! Para outro plano. Já deixaram essa vida. Tive uma grande paixão. Ela era minha amiga e depois minha confidente. Mas, homens não sabem ter amigas, me apaixonei e estraguei tudo. Meus irmãos foram embora. Meus amigos e meus colegas de colégio. meus filhos foram embora. Meus parentes e meus amores. Deixaram a porta aberta, meio aberta é meio fechada para tudo. O vento está frio, vou-me recolher!