SONATA (00h10)

E tento decifrar todos os aromas das dezenove

desta noite escura que criou um colar de ocres,

contornada pela sombra nova da nuvem cobre.

Sinto o bouquet — terra, refogado e monóxido

que vêm do cano silencioso do motor das horas,

quando da varanda, decanto o morro que orna

a paleta degradê espelhada e de borda a borda:

o verde-breu, o âmbar, o marrom e o petróleo.

O vento corre ansioso sobre o tutano dos polos

das vinte e três e quatro e leva e traz mais notas

mescladas com os agouros da pandemia inglória,

porque a cerâmica futura do amanhã me comove.

O galho preto hospeda os passarinhos lá de fora;

e eles já compuseram a sonata púrpura da aurora.