Criaturas de plantio
O sol se recolheu por detrás das nuvens e a escuridão tomou todo o jardim. Os senhores do planteio juntaram-se nas cabanas encobertadas e as criaturas se desenterraram das raízes de macieiras.
Ouviram-se os gritos, estes, estrondeantes e distantes, os tambores trauteando e as vozes lançantes do inferno atravessaram os portões dos ausentes. Machados, machados e escudos ensurdecedores. Mãe pútrida, cante-nos teus louvores!
Oh, magistrado
Ajoelhe-se diante da bacia de nosso sangue
Derrama-lhe a vida, derrama-nos a lástima!
Saudosa morte sorrateira,
Mantos tantos nestes campos
Flores tantas que se prante.
Pobre vila defasada
Triste jardim aliciante
Os demônios tomaram tuas casas
Comeram, beberam e cagaram em suas caras!
Ora, mas em breve o sol virá e os deuses irão cobra-los, disse-nos o necromante. Vale a dor que suportamos, ter uns dias adiante?
Choros e lamentações
Tamanha plantação aniquilada
Os corpos sobre as sementes trazem as pragas
Por favor, cavem suas valas e enterrem suas lagrimas
Logo mais, voltarão a emergir desta terra estragada
E levaram mais do que as jovens de suas casas
Também seus filhos, e um pouco de nada.
- Meus velhos solitários, nesta vila em que vivemos, por trás dos montes cercantes, nós, bajuladores de deuses ilustres sofremos por visitas inesperadas dos enviados do inferno. Convido-lhes para virem comigo em busca de um novo jardim de terras amortecidas!
- Ora, leve- se consigo por estas matas adiante, mas ninguém aqui seguirá um traidor dos nossos deuses eternos!
- Pois fiquem, filhos todos da ignorância. Levantem outra vez o planteio para que os diabos festejem a vossa semelhança.
- Vá, vá logo e não nos enfeze, demônio! Leve contigo tua corda e enforque-se noutro cenário. Os pássaros negros que cantam, lhe soam o som do pecado.
É, e nesta caminhada em que sigo
Levo comigo a aflição, o medo
A solidão e a razão.
E desta vila ao qual saio
Rezo a natureza o perdão
Pobres delinquentes da realidade
Escravos da mediocridade
Eles que se enforquem, então
Nas suas próprias calamidades.
E o que tem demais nessas matas
Ao qual se recusam adentrar
O inverno nunca passa, será?
Ou são estes pesadelos
Que saltam em pleno iluminar?
Vou caminhando a frente
Em busca de um novo lar
Quem sabe eu até volte
Para alguns na vila buscar.
O pior são as madrugadas
Em que o frio ardente invade o corpo
Com o coração congelado
E a pele pálida de um morto.
O vento que sopra vem do rio
Estremece-me por fora o todo
Balança por dentro a alma
Acalma e põe fogo.
Escondido em meus próprios amassos
O frio persistente entrelaça
Sorrateiro ele passa
E toma-me como sua casa.
O vento que vem vai levando
Levando para longe o nada
E assim junto as folhas vou-me eu,
Voando para outra casa.