AI DE QUEM CAI !

AI DE QUEM CAI !

A expressão inclusa no título deste despretensioso artigo poderia se referir aos tempos atuais, onde o menor deslize, a frase descuidada, um erro até irrelevante antigamente pode findar na execração pública do sujeito e até na da entidade na qual atua, trabalha, a representa. Voltamos à Idade Média, onde todos se faziam censores e julgadores do próximo, jamais deles mesmos. Minha crítica se dá devido à nota ontem (23/julho) -- no caderno de fofocas de um Jornal -- citando a apresentadora Patrícia Poeta vestida de gueixa, como homenagem a imigração japonesa acontecida há 130 anos. A cena desagradou a vários, se tratava de "USURPAÇÃO CULTURAL" (?!)... logo, quem sair de quimono nesse Carnaval -- seja de samurai ou gueixa -- corre o risco de "ser cancelado", expressão que nosso idolatrado presidente adora e que, no caso dele, é bem mais do que apenas desprezar e esquecer um desafeto.

Eu, com 3 ou 4 BOs por coisas que escrevi no Passado (anos 90) apenas sobre Capoeira, agora "me policio e me censuro" para não entrar no rol dos execrados por uma Sociedade hipócrita, na qual "só o outro é o errado" ! Mas o termo "Ai de quem cai" é antigo, usei-o em meus primeiros tempos tempos de poeta, em 1976, vivendo as agruras de recruta, servindo com atraso à Nação, com enxada, vassoura ou pincel, mais do que com arma nas mãos.

E não era uma Poesia qualquer, tratava-se dos seletos "HAICUS", mais conhecidos como HAIKAIS, inspiração para meus toscos versinhos bem rimados -- até com "rima leonina", aquela dentro do verso -- baseados todos no trabalho de Guilherme de Almeida, poeta paulista dos 1900 e "lá vai fumaça" e que brilhou como poucos nesse estilo poético japonês, creio que criado por Matsuo Basho.

Foram necessários quase 15 anos até eu "tropeçar" num folheto de um certo Manoel Fernandes Menendez -- que passou a me enviá-los, quando o Correio prestava -- explicando e destrinchando a essência do "HAICU", que pouco tem a ver com rimas. Espécie de TROVA oriental devido à contagem de sílabas, precisa, exige, melhor dizendo, interpretar a Natureza, fatos, sentimentos, o que houver, em 17 sílabas (5-7-5), o que no idioma japonês é bem mais fácil do que no nosso prolixo Português em que CASA ou lar pode ser expressada em mais de 10 formas, fonemas... já 1 só ideograma oriental é amplo, tem diversos significados diferentes. Concluindo, com 17 ideogramas (na escrita "kanji") se fala um mundo de coisas, já com 17 sílabas -- em 3 versos, ainda que resumindo em metáforas -- é bem mais difícil !

Lembro muito pouco da meia dúzia de "haikais" que produzi no Quartel, nas diversas detenções que sofri, "rebelde sem causa". Ficou-me apenas este, no estilo de Guilherme de Almeida: "Aqui dentro eu traço / novos rumos. Durmo, fumo / e rabiscos faço" ! A lembrança me veio a partir de honroso convite da jornalista REGINA SILVA para voltar a declamar na Rádio CULTURA de Belém, creio que uns 20 anos depois de minha estréia lá como poeta. Como "cantor" (em dupla) ali estive em 1990, graças ao Edson Gillet Brasil.

"NATO" AZEVEDO (em 24/julho 2021, 6hs)