cadeira

veja essa cadeira,

não lhe digo a sua

forma, nem lhe falarei

do material que foi feita.

apenas a mostro: uma

cadeira - não perco meu

tempo lhe dizendo que seja

um objeto de sentar, apenas

digo: uma cadeira, num

golpe que não poderá se

defender, não darei tempo

para pensar, discursar,

mostrar sua audácia cerebral,

sequer sua capacidade de

distinção, não lhe darei

tempo para divagar sobre

ela, sobre seu cesto de

qualidades ou do trabalho

que alguém teve em faze-la,

sem cerimônia, piedade, ou mesmo

dúvida, não desconfiarei

da sua integridade, não

recorrerei a sua formação

como homem que foi a escola,

das suas longas noites de aprendizagem,

da fadiga em fazer o mundo um

pouco mais seu, ou que numa lanchonete

a afastou da mesa com a delicadeza dos

que querem a amar alguma

cadeira, simplesmente numa

flechada, num ímpeto irresponsável,

não lhe farei fórmulas, fábulas

ou recorrerei sobre a longa

história estética que decorreu

a criação humana até que

hoje tenhamos algo digno

de nos assentar e fazer as

pequenas fofocas da vida, ou

o descanso na sala, onde livros,

estantes e um quadro qualquer

adornam o ambiente e desenha

sua personalidade, sem pestanejar

lhe direi: cadeira e uma luz

que vem do seu inferno mais

profundo a de concordar comigo.

sim, é uma cadeira,