O BOM POETA

O bom poeta não vê a lua

como uma varanda com pomar,

nem imagina andar pelas ruas

cheias de crateras no sistema solar,

muito menos, com um arco de púa,

em Tóquio, do outro lado, chegar...

O bom poeta conhece o cravo e o jasmim,

fala da azeitona, da ternura do panda,

do homem da vendinha, do aipim,

escreve o que sua alma manda,

da beleza do elefante, seu marfim,

da rede que balança na varanda,

do grafite da última palavra, o fim...

O bom poeta é igualzinho a nós,

tem meia furada, perfume barato,

sempre se lembra de seus avós,

pelos outros põe à vera os fatos,

desata em alma confusa os nós,

dorme com vagalumes no mato,

nunca é antes, é sempre pós,

cada palavra é um seu retrato,

escreve por mim, por você,

por nós...