Das Coisas Que Não Prestam
Sei de saudades que não prestam
De dias nublados e chuvosos
Quando olho pela janela da casa
O tempo passa sobre os carros
Sobre os telhados, sobre nós
Sei de amores que não prestam
Das filas inteiras nos terminais de ônibus
Do último drink tomado no inferno
Das mesmas canções que entristecem
Das invariáveis noites de puro tédio
Sei de paixões que não prestam
Das vertigens dos últimos andares
Do comprimido depois café
Das mesas fartas das casas das mães
Do derretimento ruidoso do polar
Sei de dias que não prestam
Da fome que consome tantos
Dos beijos mal dados no fim da noite
Da maldade dos que rezam o credo
E eu vou como quem veio do nada.
Milton Antonio
07jul/2021