Impressões da noite e do dia
Noite
Saio a pé pra sentir o chão e a lua
Do bairro onde estou encasulado
Sigo, sento adiante, na laje de cimento da rua
Um cão negro mancando na esquina soturna
Aproxima-se de mim e minha cadela acorrentada
Sob a luz néon piscante da garagem municipal
Ela rosna, rosno pra ela, o cão vai embora
Só o frio da noite o acompanha
Mas se arrisca atravessando a ladeira novamente
Tento nos entender
Rodeio o quarteirão
A fumaça do pasto ou da grama queimada
Sobe às narinas, tenta atrapalhar meu barato
Mas chego em casa a tempo
Deito na rede do quintalzinho
Olho meu pé de mamão, que nunca deu frutos
A luz verde na parede
Dia
Tento nos entender
Sei que o beija-flor
Provavelmente virá com a manhã
Sugar indiferente o seu pólen
E será permitido chorar
Como naquela música
Entre as folhas amigas
E se perguntar novamente
Entre cães vagabundos
Plantas e pássaros solitários
Porque afogar a poesia
Se a vida já é curta
A noite e o dia passageiros
Diz o homem do terno engomado:
Porque o negócio é dinheiro
E o poema acaba aqui