Impressões da noite e do dia

Noite

Saio a pé pra sentir o chão e a lua

Do bairro onde estou encasulado

Sigo, sento adiante, na laje de cimento da rua

Um cão negro mancando na esquina soturna

Aproxima-se de mim e minha cadela acorrentada

Sob a luz néon piscante da garagem municipal

Ela rosna, rosno pra ela, o cão vai embora

Só o frio da noite o acompanha

Mas se arrisca atravessando a ladeira novamente

Tento nos entender

Rodeio o quarteirão

A fumaça do pasto ou da grama queimada

Sobe às narinas, tenta atrapalhar meu barato

Mas chego em casa a tempo

Deito na rede do quintalzinho

Olho meu pé de mamão, que nunca deu frutos

A luz verde na parede

Dia

Tento nos entender

Sei que o beija-flor

Provavelmente virá com a manhã

Sugar indiferente o seu pólen

E será permitido chorar

Como naquela música

Entre as folhas amigas

E se perguntar novamente

Entre cães vagabundos

Plantas e pássaros solitários

Porque afogar a poesia

Se a vida já é curta

A noite e o dia passageiros

Diz o homem do terno engomado:

Porque o negócio é dinheiro

E o poema acaba aqui

Daribe Simbar
Enviado por Daribe Simbar em 12/07/2021
Reeditado em 18/04/2023
Código do texto: T7297756
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