Parcifal

à beira dos rios ou nos contornos dos picos

as lavadeiras

fazem sru trabalho solitário.

do sol, apenas a lembrança

dos risos de outrora, seu

umbigo me dizendo que

era a hora do beijo, sua barriga

a tremular o desejo que logo

seria lembrança, o mais triste

do amor é seu quarto envelhecido

seus móveis descascados e as paredes,

mais paredes que a rocha mais sólida,

lembro do jasmim, da orquídea, ainda

selvagem, da flor, esmeralda delicada,

as horas que nos afundava e só nos

acordava na hora de dormir, o pior

do amor é o tempo que nunca acaba,

o tédio de não tê-lo, apesar das

maçãs expostas sobre a mesa, cadê

Parcifal, seu ouro infantil, sua

ingenuidade salvadora, sua lança,

seu cavalo guerreiro, seu jeito de brincar

e nos dizer criança: ficamos velhos

ou ficamos maduros, nenhuma das opções

nos põe de volta as uvas que deliravam

nas noites e tinha a sombra na parede

como prova, a janela é só um janela,

a porta no máximo nos ensina o caminho

do mercado, o pior do amor, é sua cova

que encerra os vivos e que faz das flores

apenas adornos.

àri