VERSO BRUTO
O papel é o mármore bruto
e nele esculpo cada palavra...
De cada uma delas escuto
o primal som sob a cinzelada...
Escondido nos veios marmóreos
o verso pulsa e grita e assoma...
Face nívea e olhar peremptório,
sabe sentir e receber a doma...
Exposto ao público faminto,
pose astuta a hipnotizar olhares,
sente, fleumático, o que sinto...
Diz-me: farei o que mandares...
Oculto sob o mármore, meu sentimento
se revela em cada detalhe, em frescor...
A pedra já guardara em seu dentro
o toque sutil do meu amor...
Completada a façanha,
olhamo-nos em pleno aceite...
Saberá, da alma, as entranhas,
o significado do marmóreo banquete...