Violão, retrato e tragédia
Da traição covarde de um grande amor,
o coração abrigou a ferida.
O punhal cruel da mulher querida
ardeu no peito com imensa dor.
Artista mambembe, levava a vida
com não mais que o trivial necessário,
além de seu violão ordinário
mais o retrato da mulher querida.
Por comida e um miserável salário,
andava na noite de bar em bar,
tentando esquecer que tivera um lar,
tocando seu violão ordinário.
No trânsito urbano, perdeu a vida...
No chão o seu violão ordinário,
no bolso um velho e surrado rosário
mais o retrato da mulher querida.
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N. do A. – Na ilustração, Tocador de Violão de Armando Basto (Portugal, 1889-1923).