vendedor de si mesmo
você que vende a alma ao dinheiro
que vende o punhal pra depois vender o brilho de sua lâmina ao sol
você que vende o ontem,
o hoje
e o amanhã a prazo em longínquas prestações
que se vende a qualquer preço
a qualquer preço principalmente
que se torna coisa sem causa
que se torna objeto abjeto por causa da grana
você que se mira no espelho da cédula confundindo-se com seu diagrama
que vende filho, mulher e família inteira
em troca do conforto desconfortável do ter
sempre guardado, multiplicado dinheiro
em troca do teu prazer,
do teu sossego
e vive a ermo como maltrapilho
e escravo da escravidão cega e míope
do vender-se por qualquer preço
a qualquer preço
principalmente
por trocar por dinheiro
por vender-se às cegas
às pressas
sem tréguas
sem réguas
com todas as réguas !