A IMPORTÂNCIA DO INÚTIL

Interessam-me, demasiadamente,

as coisas que não levam a nada,

que são gratuitas e ridiculas.

Gosto de me perder do mundo

na superfície do ordinário

sem me importar com a vida.

Gosto do inumano,

de tudo que é estranho ao pensamento e convenções.

Não reconheço a soberania do eu,

a causalidade ou a necessidade

como matriz da realidade.

Não sou seduzido por convicções

verdades prontas e coletivas.

Detesto pactos sociais.

Sou livre de humanismos

e não domestico a natureza

com a teleologia da razão e do sentido.

É nas sensações que existo,

que me desfaço e persisto

contra a consciencia das coisas,

alheio as modas e modos da sociedade.

Discontínuo e inconcluso

duvido de mim mesmo

e desacredito no mundo.

Sou sempre um outro que me olha,

que me sabe do lado se fora

Moranda dentro de mim.

Não tenho objetivos.

Tudo em mim leva a nada.

Como neste instante em que me misturo com uma folha

que agora a pouco

caiu de um galho de àrvore.