A SEREIA DO PAJEÚ
A SEREIA DO PAJEÚ
Menina moça que vens da grande cidade
Mas tens tuas raízes no pajeú
Quem leu tua prosa sabe como tu
Que rever isso é uma felicidade
Às vezes nos bate uma tal saudade
Chega a dar vontade de voltar
Mais a vida nos prende como um borná
Na boca de um boi de apartação
Rever essas coisas do meu sertão
Me dá vontade de chorar.
Continuai falando dos umbuzeiros
E do matuto, com sua enchada, e seu gibão.
Do carro de boi e dos velhos tropeiros
Transportes esses há muito em extinção.
Fale da roça e das debulhadas de feijão.
Do galo de campina, e do pé marmeleiro.
Do pé do juá, que dá sombra o ano inteiro.
Refrescando o gado que nela remói
A saudade vem me faz encher os olhos.
Tanta saudade assim, eu sei que não agüento.
Minhas lágrimas parecem mais uma enchente
Meus olhos escorrem, e no peito o coração dói.
Fale de Luis Gonzaga com seu acordeom
Esse matuto imortal, o eterno rei do baião.
Que nunca abandonou a sua missão
Nem mesmo no auge de sua carreira
Cantou a braveza do Nordeste à vida inteira
Sem vergonha, sem orgulho ou destinção.
Pra cada momento fez uma canção
Asa branca, a Triste partida, Mulher rendeira...
Fale dos antigos engenhos com suas grandes moendas
E das mulheres tecendo rendas no seu fuso de tear
Das grandes famílias reunidas na hora do jantar
Nas mesas fartas e fornidas dos casarões das fazendas.
Fale do homem do campo com suas mãos calejadas
E da mulher camponesa não deixe de falar
Que tem nelas a braveza e sofrimento no olhar
Reféns dos colarinhos brancos com suas trapalhadas.
Fale das borboletas, da Asa Branca, do pássaro Uirapuru.
Das noites juninas, assando milho na beira da fogueira.
Do xote das meninas, do soltar balões, do tiro da roqueira.
Escreva sobre os córregos, rios, riachos, e um lindo lago azul.
E DA BELA MENINA, QUE VI EM SEU LEITO, SEREIA DO PAJEÚ.
Amiraldo Patriota