poço das águas

o fogo gelado

empurra seu nome para o poço das águas

no desfiladeiro dos esquecidos

vejo lampadas a escurer minhas vestimentas

vejo as paredes falarem com os campos,

com o gramado ao lado, com a casa bonita

do terreno ao lado, vejo tijolos a se

consumirem no telhado, procuro um rosto,

qualquer onde se possa cumprir algumas palavras

no entanto, somente o enlutado tempo

esclarece a sala hermética, vejo

o mundo que derrete com a entropia

descontrolada, minha raiva não fala,

nem dita a estrada que deveria percorrer,

será o mesmo rapaz que sobia de mochila

em direção ao colégio, que amava a moça

mais bonita, mais por falta do que por exuberancia?

quem vai me dizer, se quem morre sou eu a

a cada vez que você passa à janela, e toda

construção carcomida se infesta de barata?

talvez o vento, o trovão, o sol insolente

a rir sobre os campos, possam eles saberem

da vida engolfada no fundo das roupas sujas,

sou poeta, e meu trabalho se dá na noite escura,

na tramóia que torna marginal todo ser que tem

olhos, mas seu nome teima em vir a tona.

Alex Ferraz II
Enviado por Alex Ferraz II em 30/06/2021
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