poço das águas
o fogo gelado
empurra seu nome para o poço das águas
no desfiladeiro dos esquecidos
vejo lampadas a escurer minhas vestimentas
vejo as paredes falarem com os campos,
com o gramado ao lado, com a casa bonita
do terreno ao lado, vejo tijolos a se
consumirem no telhado, procuro um rosto,
qualquer onde se possa cumprir algumas palavras
no entanto, somente o enlutado tempo
esclarece a sala hermética, vejo
o mundo que derrete com a entropia
descontrolada, minha raiva não fala,
nem dita a estrada que deveria percorrer,
será o mesmo rapaz que sobia de mochila
em direção ao colégio, que amava a moça
mais bonita, mais por falta do que por exuberancia?
quem vai me dizer, se quem morre sou eu a
a cada vez que você passa à janela, e toda
construção carcomida se infesta de barata?
talvez o vento, o trovão, o sol insolente
a rir sobre os campos, possam eles saberem
da vida engolfada no fundo das roupas sujas,
sou poeta, e meu trabalho se dá na noite escura,
na tramóia que torna marginal todo ser que tem
olhos, mas seu nome teima em vir a tona.