Reza
Que ninguém saiba,
Depois de minhas zombarias,
Desdéns, ceticismos,
E ferinas críticas
A toda fé injustificada
Tão convincente em sua fantasia…
Pois que ninguém então saiba
–Salvo quem isto leia–
Mas tenho rezado.
Fecho os olhos onde quer que eu esteja
E sem dar-me por mim
(Posto que rezar é colocar-se para além de si)
Começo minha prece.
A minha reza é ora um pedido, ora um agradecimento, ora uma pergunta.
“Eu quero muito.”
“Obrigado por tanto.”
“Por que?”
A razão de minha resistência
De minha relutância em crer
Não é precisamente a ausência de evidências.
Na verdade, não preciso de evidências.
Preciso de compreensão.
Compreensão metafísica,
Biológica, semântica.
Preciso de sentido.
Viemos ao mundo para mudar as coisas.
Por isso, eu tenho rezado.
Fosse eu um devoto
Seria o mais fervoroso
O mais apaixonado e servil
O mais inflamado.
Talvez mesmo pelo meu histórico de vícios
É que eu tenha procurado
Manter-me distante das religiões.
Veja bem,
Eu não sei ao certo para o que
Ou para quem eu rezo.
Pouco importa.
Num mar de incertezas, algo arrisco afirmar:
A fé no amor
E em tudo o que é inquestionavelmente bom
É uma força que vem dentro.
Por isso, eu tenho rezado.