AMPULHETA

Hoje

Nesta noite fria de verão

O vento traz-me o cheiro a alfazema

As ondas do mar, a alecrim e limão.

No cabelo coloco um diadema

Faço um chá, que bebo sozinha

Apenas acompanhada pela minha solidão.

Pego no tambor e na concertina

Não sei qual dos dois escolher

Da mesma maneira não sei

Se quero viver ou morrer.

Ponho a concertina de lado

Empunho as baquetas

E desfiro toda a raiva no tambor

As batidas rasgam a pele

E vozes dentro de mim gritam

Pára, não te deixes consumir pelo fel

Pega na guitarra

E entoa uma canção de amor

O amor é regenerativo

Dá-te ânimo e incentivo.

Já não tenho unhas

Sirvo-me da palheta

Fixo o meu olhar vago

Na areia que lentamente

Vai deslizando na ampulheta

É o tempo que me resta.

E o tempo escasseia

E eu enrolo enrolo

E me quedo na pasmaceira.

O tempo já nada me diz

Também já não choro quando dizes

Desta vez acabou.

Não posso fazer nada

Se não viste quem te amou!

Um derradeiro olhar na ampulheta

É tão pouco o que me resta

No último minuto tenho um requebro

Pego na guitarra e faço uma festa.

Há muito que perdi o medo

Que já nem me lembro quando

Já não importa o que não conquistei

Parto feliz, porque te amei

E vou continuar te amando!

©Maria Dulce Leitao Reis

Direitos de Autor 26/06/15

Maria Dulce Leitão Reis
Enviado por Maria Dulce Leitão Reis em 26/06/2021
Código do texto: T7287194
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