CARTA NOTURNA
Apago versos rasurados
À mão trêmula
Queria te dar a saber desta hora
Mas temo a lágrima engolindo letras
E tudo fluido dissolvido
O sereno da noite fura me os olhos
Em clara sintonia
No meu peito um pássaro rodopia
Buscando abrigo
É assim nesse mundo amaro
Onde a dor pesa mais que o querer
E o sal arde mais que a vontade
Queria te atar aos pulsos
Num escândalo clichê
Mas temo o desfecho
Da tua pele evolando entre os dedos
Ao vivo
Sem deixar rastros
Dá me de ti o desembaraço
Da carne tesa
Que eu te darei minha alma com as luzes acesas
Então nós
Seres incompletos, remendados
A tecer outra face do amor
Pelo avesso
Sujeitos ao desmantelo da miragem no sertão do desejo
Com a sede por ora aplacada
E a fome enganada
Atracados aos ossos do beijo