CARTA NOTURNA

Apago versos rasurados

À mão trêmula

Queria te dar a saber desta hora

Mas temo a lágrima engolindo letras

E tudo fluido dissolvido

O sereno da noite fura me os olhos

Em clara sintonia

No meu peito um pássaro rodopia

Buscando abrigo

É assim nesse mundo amaro

Onde a dor pesa mais que o querer

E o sal arde mais que a vontade

Queria te atar aos pulsos

Num escândalo clichê

Mas temo o desfecho

Da tua pele evolando entre os dedos

Ao vivo

Sem deixar rastros

Dá me de ti o desembaraço

Da carne tesa

Que eu te darei minha alma com as luzes acesas

Então nós

Seres incompletos, remendados

A tecer outra face do amor

Pelo avesso

Sujeitos ao desmantelo da miragem no sertão do desejo

Com a sede por ora aplacada

E a fome enganada

Atracados aos ossos do beijo

ROSE VIEIRA
Enviado por ROSE VIEIRA em 26/06/2021
Código do texto: T7286874
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