AFIANDO NAVALHAS

As abelhas ainda repousam na colméia.

É limiar da noite. Malandros se ajeitam

para delas furtarem o mel e resistir nas

mãos, a dor de previsíveis ferrões.

Taciturnos, porfiam em afiar suas navalhas.

Vestem-se morosos, com peculiar cuidado.

Por fim, na defesa dos golpes de navalhas

alheias, cobrem os pescoços com discretos

lenços de seda de cores pastéis, alojando

nas canelas navalhas camufladas em meias

três por quatro, e saem.

Pelas ruas e calçadas da Lapa, do Rio antigo,

candeeiros de chamas difusas revelam, sobre

roupas justas e coloridas, ancas ressaltadas e

seios protuberantes, prostitutas submissas

aos seus proxenetas. Aguardam banqueiros,

bicheiros, delegados e tabeliães.

A cidade anoitece.

JOSE ALBERTO LEANDRO DOS SANTOS
Enviado por JOSE ALBERTO LEANDRO DOS SANTOS em 22/06/2021
Código do texto: T7284496
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