AFIANDO NAVALHAS
As abelhas ainda repousam na colméia.
É limiar da noite. Malandros se ajeitam
para delas furtarem o mel e resistir nas
mãos, a dor de previsíveis ferrões.
Taciturnos, porfiam em afiar suas navalhas.
Vestem-se morosos, com peculiar cuidado.
Por fim, na defesa dos golpes de navalhas
alheias, cobrem os pescoços com discretos
lenços de seda de cores pastéis, alojando
nas canelas navalhas camufladas em meias
três por quatro, e saem.
Pelas ruas e calçadas da Lapa, do Rio antigo,
candeeiros de chamas difusas revelam, sobre
roupas justas e coloridas, ancas ressaltadas e
seios protuberantes, prostitutas submissas
aos seus proxenetas. Aguardam banqueiros,
bicheiros, delegados e tabeliães.
A cidade anoitece.