INDÍCIOS
me lembro de já tê-lo lido
há tempos atrás
quando desfilava em algum lugar
incerto da memória
flanava, era uma manhã de outono
os ventos sopravam as penas soltas
dos pássaros condenados à liberdade
as folhas mortas das árvores
lembro da música seminal dos passos
sobre a madeira cortada
curtida e tratada, como se tratam
os animais tratados e curtidos
pela civilização
lembro do toque delicado do seu voo
voo da minha imaginação
o arrebatamento: as asas em seus pés
decolando
me levando a esse orgasmo
incompreendido e incompreensível
no seu céu
seus pés - minhas asas e meu ninho -
inexistiriam
se não fosse a poesia