Feliz aniversário, Lili
o que é um aniversãrio?
Quantos anos a Lili está fazendo, quem sabe, não importa, Ilíria, primeiro um grande pedaço de terra na Grécia, depois nome de professora, mais tarde, nome de rua, aliás, duas ruas rs. E depois, no quarto ao lado, indo pra escola, aprendendo a falar, a andar com suas pernas de jasmim, causando, com a sua inteligência intrigante em todos os cantos por onde passou . A Lili não foi feita pra ficar entre as paredes, é um fato do mundo, das festas, das amizades, das longas horas de conversas com amigas e amigos, das ciclos de fogueira, de rodas em rodas fazendo da vida uma renda que nunca termina, porque a vida pra Lili significa o outro, suas outras faces que vagueiam nos infinitos astros lhe cruzaram o caminho. Lili é sol, mas também é lua pra aparecer, gregária, amável, braba, atônita com a vida que é sempre movente, estranha, fria ou quente, a Lili não foge da raia, beija o fogo á beira da lareira e se contorce pra voltar à superfície em águas profundas. Lili já escolheu o que vai ser, vai fazer parto, como tem feito o seu próprio parto ao longo desses anos, cresceu, mas é menina a cantar para o pares, se fez mulher, poucos viram porque a criança não foi perdida, os olhos do coração não lhe deixaram o caminho. Vê com os olhos das estrelas, com a leveza das lavadeiras, com a ternura dos pássaros a beliscar as beiradas dos canteiros. Lili é porta, é janela, é estrada, é fechadura, mas também é chave, é parede quando braba e água cristalina quando se sente compreendida, ama intrasitivamente, ama porque pode, porque tem um coração, porque a vida não lhe deu as ventas, talvez...talvez não, porque Lili nunca fugiu da vida. Dirige com rodas de triângulo a 300 km por hora numa linha que nos assusta, mas a deixa mais nobre, vive a vida como lhe foi proposta: com intensidade e verdade. Que linda a Lili!, "deve parecer com a mãe!" que linda a Lili!, "deve parecer com o pai". Não, ela se parece com ela mesma, nem diamante ou turmalina, nem cristal, nada se contrapõe a luz que a Lili espalha, propaga, porque por onde ela passa, algo acontece, o mundo fica menos frio, menos louco, menos distante, porque ela faz da sua presença, um aconchego, um abraço, uma ternurinha a nos rondar pela pele.
A Lili desde o dia que nasceu já veio com esses olhos, esses olhos grandes que pousam na gente nos diz o indizível, olhos que nos contam, que nos poe num desequilíbrio por não saber responder a esse olhar com tanta presença. No dia que cheguei no berçário, me disseram é aquela. Hoje digo: É essa! é essa que faz aniversário, que antes de tudo é um ritual, é uma passagem, é um rito a atualizar o mito que nasceu num certo 20/06. O aniversário nasceu como uma festa pagã, na palavra tem a junção das palavras annus (ano) e vertere (voltar) e significa aquilo que volta todos os anos. E volta pra nos lembrar ou relembrar quem somos, o que somos, pra onde estamos indo, e para de novo nos fincar no mundo a sombra de um sol sempre a ser redescoberto, dessa vez com mais experiências, mais viva, mais inteira. Porque a maturidade vem assim, as vezes com uma tromba d'água, outras, pelos ciclos, entre vários que participamos.
A não nasceu, arrebentou-nos de um sono e saiu dançando, cantando, deu mil cambalhotas e despedaçou minha solidão, minha parede de gelo, e fez do meu orgulho uma bacia mítica que restaurou-me no mundo. Ser seu pai é existir um tanto mais, é ser um tanto mais, é ser forte e frágil, grande, mas que teve que aprender a conversar com as formigas, a beijar a face vertiginosa da vida. Te amo, Filha, Te desejo toda felicidade, toda alegria, toda realização a você, que tem alma de artista, desses que embebeda com a vida, mas que também tem a cabeça de Apolo, racional, que sabe da vida em vertigem, mas que a sabe também como palavra.
do sempre teu
Papo