Lírios
De tudo o que vivi através dos milênios
Eu, antigo em minhas obscurescências
Eu, que vi desabrocharem mansamente os lírios de maio
Revelo em carta aberta aos deuses:
Nada mobilizou mais meus sonhos
Do que o transpassar dos teus dedos
Que atravessaram minhas incoerências no poente sangrento.
Sobrevoando os céus em textos febris
Busquei ocultar as mais suaves tessituras
Das dilaceradas fibras do meu peito desnudo
As quais tocaste como uma harpa errante.
Guiado pelas carícias de tuas mãos lentas
Acalmei meus anseios de eternidade imediata
E compreendi enfim o sentido da simplicidade
Logo eu, mestre de dificuldades
Logo eu, senhor de dissabores…
Teus olhos dizem tudo com ternura e cautela
E minha urgente respiração desacelera
Inspirando o ar de tuas insignificâncias.
Despertamos ainda sonolentos;
O dia invade nossas intimidades.
Olho-te: faltam-me as palavras.
Ainda bem. Amo-te melhor na paz do silêncio.