Lírios

De tudo o que vivi através dos milênios

Eu, antigo em minhas obscurescências

Eu, que vi desabrocharem mansamente os lírios de maio

Revelo em carta aberta aos deuses:

Nada mobilizou mais meus sonhos

Do que o transpassar dos teus dedos

Que atravessaram minhas incoerências no poente sangrento.

Sobrevoando os céus em textos febris

Busquei ocultar as mais suaves tessituras

Das dilaceradas fibras do meu peito desnudo

As quais tocaste como uma harpa errante.

Guiado pelas carícias de tuas mãos lentas

Acalmei meus anseios de eternidade imediata

E compreendi enfim o sentido da simplicidade

Logo eu, mestre de dificuldades

Logo eu, senhor de dissabores…

Teus olhos dizem tudo com ternura e cautela

E minha urgente respiração desacelera

Inspirando o ar de tuas insignificâncias.

Despertamos ainda sonolentos;

O dia invade nossas intimidades.

Olho-te: faltam-me as palavras.

Ainda bem. Amo-te melhor na paz do silêncio.

pedro toscan
Enviado por pedro toscan em 19/06/2021
Reeditado em 19/06/2021
Código do texto: T7282266
Classificação de conteúdo: seguro