CURRICULUM VITAE: NEM CUBA, NEM DUBAI

-Seu "curriculum", por favor.

Então escrevi...

Um mar navega dentro de mim.

Sem siglas, sem bandeiras, sem ídolos.

Aliás,

Nunca fui a Cuba.

Nem a Dubai.

Lanço âncoras na mediana das águas turbulentas,

Nunca me pediram claras "evidências" de vida.

Em mim,

Os extremos se evitam,

Fogem de si mesmos!

Acho que teriam vergonha de se

Enxergarem iguais

Ao se olharem no espelho das horas...

Dos agoras.

Busco apenas por Auroras.

Nem em Cuba, nem em Dubai.

Aprendi a enxergar os dois lados das rotas iguais

Sob um mesmo céu arredio nas paisagens surreais.

Um mar revolto quebra sua ondas

A se agitar em mim.

Busco saídas para singrar sem sangrar.

Balanço nas retóricas "tsunâmicas"

Essas...que sujam e inviabilizam as águas

Como lama no cristal.

Mantenho firme o leme, desvio dos lixos.

Grande é o mal que encalha vidas.

Já entendendo:

É impossível acomodar um infinito agitado

Dentro de paredes tão débeis.

Navego para...onde?

Não sei. As cartas não são minhas!

Só sei que nunca fui

Nem a Cuba, nem a Dubai.

Aprendi: O mar do meio é o mais empedernido!

Visíveis ali só as pontas dos "icebergs" construídos

e maquiados de leveza morna.

Continuo obediente a mim

Tentando inventar cartas patéticas da razoabilidade

Tanto quanto seguro a bússola que

Busca os currículos de verdades.

Sou só um "meme" engraçado

Por se algo utópico de mim.

Um rascunho de vontades legítimas.

Só porque...

Ainda acredito que posso singrar a algum lugar seguro!

Bobagem?

Claro que é!

Mas se tudo é só poesia...quem sabe faço um verso crível?

Existe milagre?

A velhacaria que agita lá fora

Interrompe todas as rotas de dentro.

Homens de preto dão costas às quaisquer existências.

Dói navegar nas tempestades escuras dos atos.

Constato:

No quântico "curriculum" dos mares...

É impossível dilatar a utilidade do tempo perdido

Num espaço tão usurpado.

Nunca consegui chegar...

Nem a Cuba, nem a Dubai.

Refuto essas rotas anacrônicas de existência.

Na intersecção dos tantos nadas

Exalto os tantos mendigos de tudo

Porque são eles genuínos e inocentes...

Tanto no bem quanto no mal.

São decentes na verdade.

Apesar dos seus ais...

Nunca irão nem a Cuba, tampouco a Dubai.

Deles nada lhes será cobrado

Posto que é impossível pagar

Com o nada que nunca se teve.

Nem com o tudo que nos foi levado.

Quantas vidas sem navegação,

Nas ruas da vital sonegação,

A procura de existir!

Condenadas a sucumbir...

Via Cuba ou via Dubai.

E eu...

Desvio todas as possibilidades

Das rochas retóricas.

E sei:

É o mar quem navega em mim.

É ele quem faz a erosão

das rotas possíveis.

Sou só mais um traçado curvilíneo

dentre tantos barcos

que tentam chegar.

Meu "Curriculum Vitae"?

Então escrevi:

Nunca irei a Cuba, nem a Dubai.

Nos extremos não há cais.