na transcendência de cada olhar

essa minha maneira ordinária de ver o mundo

que mensura, racionaliza, metrifica

que subordina, que hegemoniza,

preconiza e sabota perspectivas

tão viva mas escondidas sob os lastros

petrificados em ferrugens e dogmatismos

com cabrestos no meu olhar,

embaçando a minha visão,

sem nada enxergar

com os ouvidos tapados pela lógica de uma razão desprovida de vitalidade, seca, soberba e aviltante que embaçava a minha audição

e o brilho dos meus pensamentos embutidos,

presos em cercas defumadas por parasitas enrugados

de protótipos sem viços a dominar os precipícios dos enganos

vendidos em embrulhos fastiosos, fadados á uma morte súbita

de sonhos e utopias

não enxergava e nem escutava

mal via e mal olhava

mas me escondia em mentiras subordinadas aos pretextos ocos e vazios e meus olhares e escutas

medidos e pesados

sob o julgo de outros olhares bastardos desvitalizados

engano do próprio engano

na incumbência mútua de sacrifícios oriundos

de mulheres e homens enfileirados em seus abismos

dos velhos costumes nocivos

de tudo pesar, medir, quantificar

hoje, eu alço voos com asas leves, perfumadas com as cores do horizonte

asas outrora escondidas, mastigadas e corroídas

pelo poder obsessivo do seguir caminhos traçados

pela cegueira absurda de mulheres e homens

secos e desvitalizados, anêmicos e covardes

fingidores de alegria

escondedores de suas próprias dores

em vertigens que agonizam, sufocam gemidos

encurtados pelo envelhecimento precoce

de velhos cômodos mal cheirosos

donde residem a fuligem de velhas carcaças

renovados pela mentira de não puder enxergar

com os olhos da alma de cada ser - mulher, homem, menino

o outro lado extraordinário

onde pulsa o feminino com a força da boniteza

e da alegria de semear poesia

em canto canto, em cada estrada,

em cada terreno baldio,

semear estrelas como utopias

e ver florescerem mulheres e homens novos

sem a arrogância humana de tudo

pesar, medir, quantificar

sem polimentos da fruição,

de em tudo ver beleza,

em cada canto poesia,

em cada instante a boniteza

a alumiar a cada instante

e desabrochar afetos

na transcendência de cada olhar

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Raimundo Carvalho
Enviado por Raimundo Carvalho em 18/06/2021
Código do texto: T7281854
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