o meu olhar nu

o meu olhar mudou

sinto leveza

sem mais o peso

da obediência cega

às regras de viver numa só direção

norteado cercado vítima de mim mesmo

seguindo caminhos pelo medo traçado

recuado e acuado dentro de mim mesmo

sem asas

sem voz

sem vez

sem opção

vivia na inércia perene e perversa

de seguir estradas robustas de mentiras

eu mudo e surdo e cego pra mim mesmo

contaminado

com medo seguia doente por entre os ventres inférteis por tantas outras cercas e muros e paredes sujas imundas submissas a padrões

hoje, a coragem me habita o desejo de viver sem razão

carcomida e destituída de emancipação e valentia

hoje pulsa em mim

gestos numa direção atento aos riscos

e perigos de viver

com as asas que sempre tive

ancoradas e escondidas

a pulsar por dentro

ao relento e sem cores

do lado de fora que dissemina sementes mortas

arruína e se enverga sem trégua

a doce ilusão

ao equívoco lerdo

de não ser o que se é:

diferente, ímpar, singular

hoje, o meu olhar brilha, ilumina

e estilhaça sem medos

pois aprendi com a pura boniteza

dos olhares que as flores emanam

alumiando sem soberba

a todos e a ninguém

aos olhares sedutores aos que se desnudam

de ganância e acúmulos

dos lucros sem fim

hoje, o meu olhar nu

se veste com os cheiros

e com as cores

de todas as flores

que a mim se desvelam

como homem muito pequeno

diante da grandeza de tanta boniteza

(18062021)

Raimundo Carvalho
Enviado por Raimundo Carvalho em 18/06/2021
Código do texto: T7281580
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