pontos pretos.
eu vejo pontos pretos em paredes brancas, sempre vi
me lembro de quando era mais nova e fui ao médico por conta disso
ele disse que podia vê-los também se iluminasse o suficiente
foi a primeira vez que alguém me mostrou que eu não estava louca
mas eles vão ficar aí pra sempre, ele disse
não há nada que possa ser feito
e assim eu aprendi a viver com eles.
quando eu fui diagnosticada com transtorno afetivo bipolar e transtorno de personalidade borderline no mesmo dia
eu me lembro de pensar que queria ser menos vista naquele dia
queria que minhas cores verdadeiras fossem um pouco menos brilhantes
ou mais
eu queria me esconder
eu queria que apagassem as luzes para que ninguém pudesse me ver melhor
ter uma doença mental é como estar numa sala completamente cheia e não ver ninguém
ou então ver todo mundo vindo na sua direção ao mesmo tempo
é encarar a lâmina toda vez que você vai ao banheiro
bem me quer
mal me quer
é não se machucar porque você tem vergonha
porque é trabalhoso esconder
e não porque vai contra toda fibra do seu ser
e não porque é suposto que você não queira se machucar, é suposto que você queira se proteger
ter uma doença mental é chorar com um comercial, de vez em quando
mas manter seus olhos secos no funeral de alguém que você ama porque naquele dia você não conseguiu sentir nada
ter uma doença mental
é igual o ponto preto diante dos meus olhos
se eu não encaro a parede branca
se eu não fixo o meu olhar
eu posso não percebê-lo tanto
mas está sempre ali
está sempre ali.