eis o meu caminho
vivia a cristalização de rituais vazios
e dogmas estreitos numa imagem alheia a mim mesmo
e seguia na direção de caminhos ortodoxos,
sem vida, sem sal e sem açúcar
paradoxalmente torto e tonto
sem viver a loucura de ser quem eu sou
apenas diferente sem a retidão do seu olhar crivado de tontices e ignorâncias de que o outro tem que seguir:
mapas, bússolas de como dever ser seu eu sagrado
e seguia carente de ajustes com fruições poéticas
caminhava sobre trilhos dominados e doentes
por lógica que beirava uma patologia irracional
fazia tanto mal
fazia tanto mal
fazia tanto mal
e quanto mais eu fingia que nada me doía
mais se alastrava a agonia
de viver a cada dia
essa dor que me corroía
e cada vez mais eu fingia
de tanto fingir,
eu fingia não fingir
fingimento aplaudido pelo sarcasmo do outro
que vibrava na mesma sincronia
de sua mediocridade
mas nunca visto pela dor que me consumia
como um mal que me fazia muito mal
com lagrimas entupidas e sufocadas
e eu me subtraindo, me esvaindo, me consumindo, me deteriorando,
me desgastando, sumindo de mim mesmo
caricatura de um homem com seus sonhos
castrados e prostrados no ostracismo
e os cegos de plantão
que dirigiam as suas vidas sob os lastros da razão, da cordialidade bestial, impotente e nefasta
de viver o que os outros orquestram como máquinas
o que tem que ser vivido,
mesmo sem sentido
mas proferido em bom tom de se viver algemado
negando as pulsações do meu coração
negando o sagrado que existe e persiste em pulsar em mim
esse modo único de ser homem
hoje não me consome
sou do jeito e do tamanho
que a minha consciência e a minha intuição
me dizem
com a sutileza do canto dos pássaros
em assovios sublimes
que arrepiam a minha alma:
eis o meu caminho