eis o meu caminho

vivia a cristalização de rituais vazios

e dogmas estreitos numa imagem alheia a mim mesmo

e seguia na direção de caminhos ortodoxos,

sem vida, sem sal e sem açúcar

paradoxalmente torto e tonto

sem viver a loucura de ser quem eu sou

apenas diferente sem a retidão do seu olhar crivado de tontices e ignorâncias de que o outro tem que seguir:

mapas, bússolas de como dever ser seu eu sagrado

e seguia carente de ajustes com fruições poéticas

caminhava sobre trilhos dominados e doentes

por lógica que beirava uma patologia irracional

fazia tanto mal

fazia tanto mal

fazia tanto mal

e quanto mais eu fingia que nada me doía

mais se alastrava a agonia

de viver a cada dia

essa dor que me corroía

e cada vez mais eu fingia

de tanto fingir,

eu fingia não fingir

fingimento aplaudido pelo sarcasmo do outro

que vibrava na mesma sincronia

de sua mediocridade

mas nunca visto pela dor que me consumia

como um mal que me fazia muito mal

com lagrimas entupidas e sufocadas

e eu me subtraindo, me esvaindo, me consumindo, me deteriorando,

me desgastando, sumindo de mim mesmo

caricatura de um homem com seus sonhos

castrados e prostrados no ostracismo

e os cegos de plantão

que dirigiam as suas vidas sob os lastros da razão, da cordialidade bestial, impotente e nefasta

de viver o que os outros orquestram como máquinas

o que tem que ser vivido,

mesmo sem sentido

mas proferido em bom tom de se viver algemado

negando as pulsações do meu coração

negando o sagrado que existe e persiste em pulsar em mim

esse modo único de ser homem

hoje não me consome

sou do jeito e do tamanho

que a minha consciência e a minha intuição

me dizem

com a sutileza do canto dos pássaros

em assovios sublimes

que arrepiam a minha alma:

eis o meu caminho

Raimundo Carvalho
Enviado por Raimundo Carvalho em 17/06/2021
Código do texto: T7280675
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