O ALTRUÍSTA
Elefantes em uma jangada
Eu traço um desenho na minha mente sentado na praça
enquanto acendo um cigarro.
Eu tento falar de mim nesses traços.
A pandemia ainda existe e o trocado dos cigarros que comprei somam dois reais.
Eles chacoalham dentro do bolso ao caminhar.
Um pai se aproxima, fala de sua vida de merda e do filho que está para vir.
Eu não sinto nada.
Não sou como vocês empáticos e que sofrem pela dor deste homem.
Não deste homem.
Pediu uns minutos da minha vida para falar sobre sua trágica vida, e eu reconheci o esforço.
Recomendei que fizesse um pix, mas não sei se ele fez.
Dei-lhe os trocados que havia no bolso, pra me livrar do barulho que fazem quando estou caminhando.
Pois o elefante pesa demais, e meu barco já carregava uns três.