pedagogia das flores

aprendo com a resistência das flores

que a ousadia de nascer e renascer

a cada dia e em cada instante

por diversos cantos do mundo

que um outro mundo

é possível de composição

sem a imposição da força

sem a aridez da volúpia das horas

mas com a ternura das mãos esculpindo poesia

com o louvor do dia a dia

aprendo com as flores

que um outro mundo melhor é possível

sem ganancia e sem o torpor consistente dos lucros em demasia

aprendo com as flores a fruir da beleza de cada dia

sem ter Deus como culpado dos farrapos e dos farrapados,

dos famintos e sedentos por comida

anêmicos sem boniteza

sem enxergar o vapor das coisas que lhe consomem

cada mulher e cada homem

não só fome de comida: feijão, farinha, teto e chão

mas a tão abnegada fome de beleza,

de boniteza

de flores alastradas mundo a fora

a embelezar com gratuidade

sem demora de existir

fome e sede do calor dos olhares infinitos da beleza de muita gente

enrugada por entre as pálpebras do tempo

gente escondida e dirigida pelo tenaz medo de viver

a essa gente encurvada perante a teimosia dos que fabricam fome e sede de comida palpável e invisível

aprendo com as flores

dia a dia

a gratidão de na solidão vivida

crescer perfumando sem cobrança e sem incômodos pragmáticos

aprendo com as flores - sempre

a comungar cada raio de sol com outras flores em sintonia

mesmo ausentes ou presentes

a clarear a imensidão da labuta de cada dia,

de cidadãos sem cidadania, escravos sem alforria

a peregrinar caminhos salobros, íngremes e torpes

iluminados por todas as flores em cores e cheiros

aprendo sempre com as flores - sempre !

Raimundo Carvalho
Enviado por Raimundo Carvalho em 13/06/2021
Reeditado em 27/08/2021
Código do texto: T7277665
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