Rituais

Os ventos uivavam, impetuosos;

as janelas abertas batiam asas, sincopadas;

na cabana escura, dançavam vultos tenebrosos

para ajuntar as mil almas, todas usurpadas.

Num canto, acocorada, inspirava-se a morte

sobre um próximo desenlace;

os vapores frêmitos eram seu consorte

a energizar sua desfigurada face.

A turba, agitada, viu-se faminta;

manjares logo mais seriam servidos;

o menu lia horas, dias e semanas, à finta;

para anestesiar os que seriam abduzidos.

A noite, densa, finalizando seus vapores,

silenciava os ventos; escolhia suas alfaias;

os manjares consumidos em estupores,

enquanto a morte nomeava novas aias.

Saciados, todos se puseram à labuta

para ceifar o que fora programado.

Ao amanhecer, o sol ergueria sua batuta

e regeria mais um dia, como diagramado.