ABSTRAÇÃO
ABSTRAÇÃO
Agora que as pupilas
Já estão dilatadas
Não sei da imagem exata
Do querer puro, do puro querer
E se este existe.
De onde vem a fonte
que me impele, me deixa insone,
Me vira, revira; revirante e revirado.
Nenhum disfarce vale
Nenhum jogo vale
Sob a tutela do amor.
Só o vale que caminha entre nós
Pode calar o mundo,
Ensurdecer a fé na humanidade,
Perder a crença no amor,
Até encontrar outro céu
Onde haverá, talvez, outros recursos.
Caminhando às abstratas
Porque, assim, como me tratas
Perco o contido refluxo e me vejo
Num redemoinho de sentimentos.
Sou homem sem amuleto
E o que reconheço em mim
É o corte da indiferente cicatriz,
Cesárea de mim feita a fórceps
Cotidianamente espelhada d’alguma forma.
Não há túnica,
Só há tu única,
Se despindo sem melodia,
Destoando a minha poesia
Para o mais, para o mar,
Caindo na diurna voz,
Sendo apenas uma noturna foz
Corrompida pelo fluxo
Das espermáticas sensações.
A vida segue inodora
Com a dor que se adora.
Estaremos lúcidos ou loucos demais,
Desertados ou munidos de silêncios.
Talhados no soluço, tão barrocos.