ABSTRAÇÃO

ABSTRAÇÃO

Agora que as pupilas

Já estão dilatadas

Não sei da imagem exata

Do querer puro, do puro querer

E se este existe.

De onde vem a fonte

que me impele, me deixa insone,

Me vira, revira; revirante e revirado.

Nenhum disfarce vale

Nenhum jogo vale

Sob a tutela do amor.

Só o vale que caminha entre nós

Pode calar o mundo,

Ensurdecer a fé na humanidade,

Perder a crença no amor,

Até encontrar outro céu

Onde haverá, talvez, outros recursos.

Caminhando às abstratas

Porque, assim, como me tratas

Perco o contido refluxo e me vejo

Num redemoinho de sentimentos.

Sou homem sem amuleto

E o que reconheço em mim

É o corte da indiferente cicatriz,

Cesárea de mim feita a fórceps

Cotidianamente espelhada d’alguma forma.

Não há túnica,

Só há tu única,

Se despindo sem melodia,

Destoando a minha poesia

Para o mais, para o mar,

Caindo na diurna voz,

Sendo apenas uma noturna foz

Corrompida pelo fluxo

Das espermáticas sensações.

A vida segue inodora

Com a dor que se adora.

Estaremos lúcidos ou loucos demais,

Desertados ou munidos de silêncios.

Talhados no soluço, tão barrocos.

Leo Barbosaa
Enviado por Leo Barbosaa em 09/06/2021
Código do texto: T7275145
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