UM CANARINHO DA TERRA
Um canarinho da terra
Trouxeram um dia pra mim,
Foi presente especial
Do negro José Joaquim.
Um canarinho da terra
Alegrou a minha vida,
Se tornando no meu mundo
A figura mais querida.
Chamei-o de Marechal,
Em homenagem a Deodoro,
O canarinho da terra
Que, ouvi-lo cantar, adoro.
Eu trocava todo dia,
Sua água, sua comida,
E ele me retribuía
Com sua bela cantiga.
Cantava seu repertório
Na casa de Tia Naninha,
Pendurado no alpendre,
Na sala ou na cozinha!
Quando meu sono ia embora,
Quando o cansaço apertava,
Eu só vinha ter melhora
Quando o canário cantava!
Meu canário Marechal
Fazia-me companhia,
Cantando de madrugada
Até amanhecer o dia!
De manhã eu o levava
Pra cadeia, bem ao lado,
Pra cantar pra aqueles presos
que lhe ouvia admirado.
Meu canário Marechal
Andava sempre comigo,
Eu era seu cuidador
E ele — meu melhor amigo.
Mas um dia meu canário,
Debaixo da goiabeira,
Escapou-se da gaiola,
Numa atitude ligeira!
Oh que tristeza senti
Ao vê-lo sumir no céu!
Deixando aqui no meu peito
Uma saudade cruel!
Meu canário Marechal
Volte logo para mim!
Vai buscar ele de volta,
Por favor, José Joaquim!
— Antonio Costta
(Poema em homenagem ao eterno menino de engenho a José Lins do Rego)