eterno-efêmero

gosto das flores

- de todas elas !

amadureço no meu caminhar com os seus cheiros

- de todas elas!

parece tolo gostar de todas elas

as flores me causam espanto!

me entusiasmam

me reviram da cabeça aos pés

me deixam sem ar

e sem ares

elas me avermelham a pele

me arrepiam a espinha dorsal

me fazer rir

me fazer chorar

me fazem sumir na imensidão de mim

até me achar escondido

me tonificam o meu viver

são sábias, ousadas

e nutrem a minha maneira de ver

porque sou arredio, à margem, na lateralidade com o único compromisso com a minha verdade de ser quem eu sou:

um menino que gosta de flores

- de todas elas!

pois me alicerçam

estremecem meus alicerces

me escurecem as vistas, me deixam tonto

me desnorteiam

porque elas são estupidamente tolas,

ou melhor - por parecem tolas,

ainda mais por parecem ingênuas

não se camuflam de espertezas

como os tolos de plantão à beira de seus abismos ocos por aptidão

as flores - são todas tolas à presença asfixiante de mulheres e homens

doutores em espertezas, tão feios com tanta rudezas

as flores nascem por simplesmente serem flores

por isso são como são

não tem interesses vanguardistas

florescem e perfumam pela alegria e prazer de vir a esse mundo

sujo e imundo de tolices autoritárias e utilitárias

de acúmulos de bens sem vida

que não pulsam em nenhuma alma

mulheres e homens carcomidos pelos vermes anêmicos e sedentos por quem segue os ritmos, o lume, sem perfume, sem cor, sem sabor, sem vigor e sem a virilidade da poesia nas veias!

sem o frescor da poesia em suas veias!

sem a fecundidade da poesia em suas veias

as flores me dão fertilidade ao conjugar o meu verbo do bem viver

me fazem pulsar a alma com gozos que me alarmam às paredes do eterno

elas me fazem acender a alma

me fazem aquecer a alma

me queimam em arder labaredas na minha forma de ser e viver

menino

me encantam todas as flores

todas elas!

todas elas

todas! todas !

me embebedo com todas elas

me dopo sempre com elas

me deixam tonto zonzo alegre

de tanto gozo de viver eternamente tolo por elas

que me fazem a alma gozar

são gozos múltiplos que me estremecem o corpo

e volúvel fico submisso a seus poderes

à sua beleza

à sua boniteza

me curvo diante de todas elas

me inclino diante de todas elas

me debruço diante dos seus cheiros

me esquivo dos caminhos sem elas

me encharco com seu cheiros

me lambuzo com sua texturas

me embebedo com todas as flores

sem distinção

as rasteiras esquecidas em caminhos esquecidos

em monturos podres

em pedregulhos escondidos

me acolhem

me rendem

me alumiam

me dão vigor

me fornam flores

aquecem a minha virilidade poética

de ser homem diante dese mistério que é viver a vida ...

diante da boniteza efêmera do vigor das flores

que me eterniza

me deixa em êxtase

me colorindo por dentro

e irrigando a morada de minha alma

tonalizando os meus sonhos

Raimundo Carvalho
Enviado por Raimundo Carvalho em 07/06/2021
Reeditado em 07/06/2021
Código do texto: T7273282
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