anemia estética
um direito à beleza!
à leveza, à alegria da fruição
um direito sagrado
negado, silenciado, escondido, maquiado,
negligenciado,usurpado ..
roubaram o direito ao riso, à alegria
à boniteza
à beleza!
um direito à vida!
o direito de fruir o por do sol sem medo
de testemunhar a lua sentindo saudade do sol
de gozar as bonitezas,
de fruir bonitezas
de um porre de bonitezas
de lavar corpo e alma
em catarses
e tomar banho com o brilho das estrelas - de toda elas
de tomar banho de chuva sem receios
de colher flores sem pudores
de comungar risos como as rosas que se abrem e colorem os ares sem pecados
de amanhecer o dia sorrindo por dentro cantando com os passarinhos
de dormir em suas casas - ninhos no calor de suas asas
de dormir com passarinhos
e cantar com eles suas cantigas
dançar com a melodia dos ventos coloridos fluidos densos
a uivar sedentos nas profundezas das horas teimosas por existir
oprimir o direito à beleza
de luzir, exprimir e colorir vidas
porque fome e sede
de beleza
estremecem os alicerces da alma
e o corpo padece e apodrece
mesmo com as veias sangrando
é anemia estética estabelecida
quando o pão e a sede
a água e a fome
saciam calafrios
a anemia da alma
é quando deixa o corpo à míngua
que falece como andante,
como andarilho,
caminhante
sem apodrecer em cemitérios
corpo torto, esquelético
que ainda pulsa um coração
com força
num corpo maltrapilho, esguio,
sentindo o frio da indelicadeza,
castrado pela estupidez humana
polida pela insensatez
dos que oprimem direitos
ao sagrado que brota
dos mananciais mais fecundos
da alma de cada ser
com sua virilidade poética