O útero

O útero é o berço primeiro

O argumento da vida, a divindade da mulher.

E a mulher é a deusa da maçã

Do arquipélago interno

Onde flutuam vidas, enigmas e dores.

As dores são as respostas acre

Para as lutas incautas, para a sobrevivência pungente.

Um bicho indomesticável, que não se dobra

Que não vive de sobras.

A mulher tem útero para jorrar vida

Para jorrar sangue

Para jogar fora o que lhe denuncia.

Ela é maré alta, é onda violenta espumando

Não se quebra, não enquanto é vida.

Querê-la é insuficiente querela

Ela é dela, do filho, do jato rubro e quente

De onde jorra sua maldição e sua força.

O útero é sua barriga.

E a mulher já nasce serpente

Cerca, abraça, protege, acaricia.

Ama!

Ama mais que pode, mais que é permitido amar

Ama como se o amor estivesse por terminar

Abraça para sufocar, o que lhe rebenta o ventre

O que lhe santifica. O que lhe suaviza a vida!

Mas o útero também gera o fruto

Da decadência, do espúrio, do estupro

E nem assim ela deixa de se santificar.

A mulher está acima do útero

O útero é a caixinha de segredos de uma mulher

Homens podem lhe visitar quando ela quer

Mas homens não lhe dominam, não lhe sabem

Ela tem mistérios mais profundos

Que sua caixa de pandora pondera.

O útero é seu regalo, regaço, regato.

É sua benesse que a favorece na divindade

É seu colo onde afaga os seus e a si própria

É de onde jorra a sua fonte de saberes.

Cyntia Pinheiro
Enviado por Cyntia Pinheiro em 04/06/2021
Código do texto: T7271199
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