Canção do poeta sem dor
A apatia me havia pegado mais uma vez.
Como se nada se passasse em meu coração,
Como se eu nunca houvesse tido um.
As palavras me haviam acabado.
Não havia sobre o que escrever.
Não havia sobre o que falar.
Apenas as mesmas velhas dores.
Nada de novo para atormentar a alma.
Isso me fazia sentir vazia.
Seria minha única ocupação sofrer?
A vida não está completa se não existe um bom motivo para chorar.
Havia me deitado mais uma vez no colo da apatia.
Ela acariciava meus cabelos,
Secando as lágrimas dos meus olhos
e tirando o sorriso que um dia ousei em ter nos lábios.
Secou meu coração como se fosse um vestido branco manchado de vinho.
Não havia sobre o que pensar,
Não havia sobre o que reclamar.
Além das velhas dores que estavam sentadas no sofá.
Mas que graça existe em chorar pelas mesmas cóleras?
As lágrimas foram ficando menos salgadas com os anos.
A apatia me havia abraçado mais uma vez.
Não sentia mais nada e não conseguia mais dormir.
Apenas remoer pouco as pequenas feridas que haviam em minha pele.
O ruído do trem me enchia a esperança;
Algo, em algum momento, aconteceria.
Mas nada mais me acelerava o coração.
Nada mais me parecia tão bom
Ou tão terrível, como costumava ser.
Seria esse o único destino de minha alma?
Sem desgosto para amargar a boca
Ou euforia para acalentar a alma.
Apenas me deitei mais uma vez
no colo da apatia.
Ela acariciava meus cabelos, enquanto dizia que me acompanharia, pelo resto da vida.