PEDRA DO DESERTO
Quando alguém ensaia a partida,
vai embora,
Naquela estação de apenas ida,
Nós acenamos com o lenço encharcado,
Tão embebido de chamamentos
Que não o içam os ventos.
Fica inexpressivo o lenço e, pesado rente, ao chão,
Nenhuma memória o denuncia.
Os olhos embaçados não comunicam, então,
Sobre as flores de antigas ladeiras
e das viagens em estradas de perfume ladeadas.
Não mostram as mãos a locomotiva de esperanças (encantada),
Não cantam as vozes, em vales sonoros e verdejantes, a doce toada.
Quando outro chamado domina,
Mesmo que na porta de saída queime uma lágrima teimosa e furtiva,
salgada na pele,
A gente se esquiva.
Na face, a passageira clandestina
Não acredita em vez derradeira
E dela não se fala,
não se dá o braço a torcer à forasteira.
Evita-se que ela seja com firma reconhecida,
Carimbo de batalha perdida,
Ante o silêncio ensurdecedor
Do final de uma bela história de vida.
Embora dela não se fale,
Essa inevitável viagem tem destino certo.
Inventa-se uma mentira no final,
Joga-se a culpa numa pedra do deserto,
Com medo do adeus, diz-se tchau...
Fecha-se a janela e fica a lembrança
Da terrível despedida marginal.
DMM