DETURPAÇÃO

Deturpe todas as cores, símbolos e escritas

Deturpe meu linguajar e me ponha num tabuleiro

Com cartas marcadas e promessas lidas

Sou seu até o fim e fiel até depois dele

Deturpe as cores que me definem

Pois sou opaco e monocromático pela tua vontade e ação

Deturpe cada segundo da criação benedita sob o solo sagrado da minha bênção

Cada dia que sinto tristeza o mundo sussura: “Arrependa-se”

E por deturpação eu entendo cada amanhecer como uma porta semi-aberta

Por entendimento sou um aleijado no salão colorido da velha tradição

Quanta alegria, quanta circunstância, quanto gasto...

Deturpado, silencioso, cinza e sem lastro

Meio que justificado numa festa onde os convidados são todos íntimos e distantes

Deturpados pelo traje

Deturpados pelo hábito

Deturpados por estarem vivos ao lado de uma pira tão acesa e tão significativa.

Caio Braga
Enviado por Caio Braga em 27/05/2021
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