Desimportâncias

procuro rodear-me das mais obtusas desimportâncias

de contos de fadas inócuos e ingênuos

enquanto o som do mar nos envolve e acalma

e a vida passa despreocupada sobre nossas cabeças.

escutei certa vez estranho conselho, que segue:

vigia e desvia de todas as obrigações

às quais um homem precisa submeter-se

para ser respeitado por imbecis.

porquanto afirmam as grandes epopeias

que os momentos mais grandiosos da existência

são também aqueles vazios de pretensão

surpreendendo mesmo aos mais atentos ao amor.

em sua brevidade, a vida é implacável

e espreme os sonhos dos precavidos e virtuosos.

a incessante busca pela completude leva senão

ao vazio da alma; estamos de mãos atadas pelo acaso.

a lembrança do cheiro de flor de laranjeira na chácara,

guardar postais como um acervo histórico particular,

descobrir que amamos alguém que nos perturba:

que fascinante e estranho cinismo é viver.

pedro toscan
Enviado por pedro toscan em 21/05/2021
Reeditado em 26/08/2021
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