Desimportâncias
procuro rodear-me das mais obtusas desimportâncias
de contos de fadas inócuos e ingênuos
enquanto o som do mar nos envolve e acalma
e a vida passa despreocupada sobre nossas cabeças.
escutei certa vez estranho conselho, que segue:
vigia e desvia de todas as obrigações
às quais um homem precisa submeter-se
para ser respeitado por imbecis.
porquanto afirmam as grandes epopeias
que os momentos mais grandiosos da existência
são também aqueles vazios de pretensão
surpreendendo mesmo aos mais atentos ao amor.
em sua brevidade, a vida é implacável
e espreme os sonhos dos precavidos e virtuosos.
a incessante busca pela completude leva senão
ao vazio da alma; estamos de mãos atadas pelo acaso.
a lembrança do cheiro de flor de laranjeira na chácara,
guardar postais como um acervo histórico particular,
descobrir que amamos alguém que nos perturba:
que fascinante e estranho cinismo é viver.